quinta-feira, 28 de agosto de 2008

o trem fantasma

preciso olhar e ver o que realmente há. sem tentar tapar o sol com peneira. ás vezes, para seguir, preciso parar. para abrir espaço para as coisas novas, preciso limpar o terreno. para construir, preciso desconstruir: apegos, ilusões, crenças, histórias que não são minhas. para curar, preciso olhar de perto as dores antigas, essas que a gente torce, torce, e continuam encharcadas. essas que a gente muitas vezes prefere fingir que não sente mais. essas que é preciso trocar a música pra não lembrar.
preciso descobrir onde meu medo começa, olhá-lo nos olhos para saber que sou maior. quando morava em campinas, gostava mais ainda dos parques de diversões. nas férias montavam um novo no clube, era bem simples, mas eu não cansava, passava a semana inteira contando os dias.
fiquei maior e conheci um montão de parques, diferentes daqueles do clube. amava os carrinhos bate-bate, a roda-gigante com a vista linda, a montanha russa, mesmo sentindo que teria sido melhor continuar lá embaixo.
o trem fantasma era diferente! nem uma vez eu abri os olhos lá dentro. tinha vontade, mas morria de medo. eu era dessas pessoas impressionadas com coisas sobrenaturais. escuro? jamais! então, como eu aguentaria abrir os olhos na escuridão do trem fantasma? não, eu não abria.
aí eu cresci e descobri que num certo aspecto, a vida às vezes parece uma volta no trem fantasma. a diferença é que, nesse caso, é só um brinquedo. mas, ao contrário disso, o encontro com nós mesmos é inevitável. mais cedo ou mais tarde, as circunstâncias nos cobram essa coragem, e não desistem fácil.quanto mais o tempo passa, maiores eles se tornam, e mais perturbadores. é o peso das lágrimas todas que ainda não choramos para lavar a alma.
são os medos mais antigos que ainda nos acompanham. e infelizmente, isso só nos protege da coisa mais linda do mundo: a vida! a gente precisa olhar e ver o que realmente há. e quando começamos a fazer isso, com todo cuidado do mundo, bem devagar pra não assustar o medo, descobrimos que as nossas assombrações são feitas de fragilidade como os monstros do parque de diversão, que olhando de perto, nem são tão assustadores assim. o que faz com que pareçam tão convincentes, é a nossa insistência em continuar com os olhos fechados.
sim, olhar pode doer, no início, mas o que dói mais é seguir pela vida com a alma povoada por mentiras. essas que nos impedem de estarmos vivos de verdade.
ana jacomo.

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