domingo, 31 de outubro de 2010

sobre a falta 2

Desconfio que Ana queria sentir a mistura do cheiro dela com o cheiro dele.
Cheiro docinho com cheiro de Marcos. Como seria?
Ela queria acordar com Marcos para que ele abrisse a janela...





...E as portas também.

sobre a falta

O relógio marcava 5:37.
Ana acordou sonolenta, foi devagar ao banheiro e escovou os dentes olhando ao espelho. Porque será que a pele dela ficava tão branca ao acordar?
De qualquer forma o dia amanhecia. Acordou mais cedo que o normal, sentou na beira da cama com os pés no tapete de joaninha e olhou em volta, o quarto cheirava docinho. Respirava devagar e profundamente. Sentia falta de alguma coisa. O que era?

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

interior

AAAAAAAAAAh - escutou-se do outro lado.
Ela era uma menina loira. Era uma menina boba, rouca e um pouco louca.
Lá fora, algumas pessoas caminhavam, outras aceleravam os carros, viam-se crianças voltando da escola, velhinhos entrando pela porta do fundo do ônibus. Uns andavam de bicicleta, outros procuravam o táxi.
E ela, da janela, gritava:
- AAAAAAAAAAAh!
A calçada era inclinada. No chão, palavras escritas ao vento. Frases pixadas. Que ao longo do tempo a chuva levaria embora.
A casa era antiga - como ela gostava. Casinha branca com a tinta já um pouco desgastada, janelas que davam nas ruas, nada de portão. A casa não tinha portão. A porta era grande. E ele sempre passava por lá. Olhava para cima. E lá estava ela. Vezenquando de pijama, com o cabelo todo armado. Vezenquando, com o cabelo molhado.
- Gustavo! Ei! Olhe para cá!
Ele levantou a cabeça.
- Não vejo nada, querida.
- Você está ficando cego?
- Não! Os raios do sol estão misturando seus traços, meus olhos ficam sensíveis. Não vejo nada além da luz.
- Mas olhe para cima, Gustavo. Você não me olha mais. Você nunca mais me olhou.
- Eu te olho todos os dias, por todos os lugares que vou.
- Me olha?
- Te olho e te vejo. Mesmo quando não está.
Naquela cidade, algo mágico acontecia todos os dias. As pessoas sabiam olhar. A harmonia gritava.
Não era necessário ver para crer.
Silêncio - escutou-se por todos os lados.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

uni-verso


Os seres do lado de lá me contaram que você veio para ficar.

como melodia

Um barquinho de madeira,
Em águas calmas.

transparência

Se um sorriso sincero mostrasse quem é quem, hoje todos me veriam nua.

reconhecimento

Ouço os pingos da torneira, suavemente... entre a paz e a voz de Calcanhoto, me recordo das palavras ditas, do aviso prévio - vai começar a chover e amor não se pede. Dentro de mim mora um filtro fiel, expulsa tudo que faz mal, tudo que passou da validade. Descubro que algumas pessoas nos roubam para fora, nos fazem viver vidas que não são nossas. Hoje, olho para trás e sei-e-sinto-e-tenho-certeza: nunca fui tão triste como quando estive com você. Não sei como consegui enxergar brilho no teto do seu quarto, não sei como consegui tentar fazer feliz quem não tem ânsia de viver. Não sei como consegui um dia olhar para o céu e pensar em você; sendo que não gosta de estrelas. Hoje, alívio. O tempo é meu amigo. Meu coração é grande. Como é bom me sentir viva de novo.

(-i)lusão

Sei onde quero ir e a vida vai me levando em linhas tortas em rotas novas onde quero chegar.